Escoliose é a deformidade da coluna vertebral mais comum em todo o mundo. Em vez de uma linha reta no meio das costas, a coluna com escoliose apresenta uma ou mais curvas, podendo ter a forma da letra “S” ou “C”, em vez de um “I”. Além desta deformidade, a coluna também está rodada sobre si própria, arrastando as costelas para formar uma deformidade multidimensional de todo o tronco. A escoliose é uma deformidade real da coluna e não deve ser confundida com má postura.
Escoliose idiopática
Ao contrário de outras formas de escoliose, que têm uma causa conhecida, as origens da escoliose idiopática permanecem um mistério. Hoje sabemos que a escoliose idiopática tem um componente genético, mas continua a ser necessária mais investigação para identificar os genes específicos e de que forma é que esta alteração genética se traduz na deformidade da coluna. Os objetivos da pesquisa genética são a identificação precoce das crianças e adolescentes em risco, e antecipar a sua orientação, ainda antes de aparecerem as suas manifestações clínicas.
Diagnóstico
A deteção precoce da escoliose idiopática é importante para o sucesso do tratamento. Habitualmente, nas consultas de vigilância de saúde infantil, efetuadas pelo Médico de Família ou pelo Pediatra assistente, é feita a observação e avaliação do tronco. Geralmente, essa avaliação é suficiente para detetar precocemente alguma assimetria que possa ser o primeiro sinal de uma escoliose em aparecimento. Quando esta avaliação de rotina não existe, sobretudo durante as fases de crescimento rápido, a curvatura da coluna pode progredir silenciosamente e tornar o tratamento mais desafiador.
Quando o padrão da curva não for típico, ou se houver algo incomum no raio-X, é possível que a escoliose não seja idiopática, ou seja, que exista uma causa a condicionar o aparecimento da curvatura da coluna (escoliose secundária). Nessas situações, pode ser necessário realizar outros exames para esclarecimento:
– Ressonância magnética (RM): usa uma combinação de campos magnéticos para produzir imagens detalhadas dos órgãos e estruturas do corpo. Uma ressonância magnética não envolve exposição a radiação nociva.
– Tomografia computadorizada (TC): usa uma combinação de raios-X para produzir imagens transversais (“fatias”) do corpo. A tomografia envolve exposição a radiação nociva (atualmente em doses bastante baixas), no entanto, é o exame que mostra, com mais detalhe, as estruturas ósseas.
Sintomas
A escoliose idiopática ligeira não causa nenhum sintoma. Mesmo a escoliose leve ou moderada não é dolorosa e, habitualmente, a preocupação começa por ser maior com a aparência do tronco.
Os sinais mais comuns da escoliose idiopática são diferença na altura dos ombros, assimetria da cintura, diferença na altura ou projeção das omoplatas, diferença na maneira como os braços pendem ao lado do corpo e a giba torácica, habitualmente o sinal mais evidente (ao inclinar para a frente, os lados das costas têm diferentes alturas).
A maior parte das dores nas costas em crianças e adolescentes é de causa muscular, muitas vezes relacionada com alterações de postura ou de sobrecarga mecânica. A causa de dor, no entanto, será sempre avaliada na consulta do paciente com escoliose.
Tratamento
Cada paciente e cada escoliose são diferentes e, portanto, o tratamento é determinado caso a caso. Ao fazer o plano de tratamento são tidos em conta a gravidade da curva, a sua localização na coluna, a idade e o estágio de crescimento do paciente. Nem sempre uma escoliose precisa de ser tratada, e, quando necessário, há várias modalidades de tratamento.
Muitos pacientes com escoliose idiopática leve não necessitam de qualquer tratamento e podem precisar apenas ser vigiados regularmente para garantir que a curva não piora. Esta vigilância consiste na realização de uma consulta médica com observação clínica do tronco, com ou sem a realização concomitante de radiografia. Uma criança com uma curva inferior a 20 graus, apenas é recomendada vigilância regular por um ortopedista pediátrico.
Não há, até à data, evidência científica que sustente a realização de exercícios ou de fisioterapia para o tratamento da escoliose. Algumas correntes têm sugerido esta prática, que é certamente útil na manutenção do reforço muscular, na flexibilidade da coluna vertebral e, nalguns casos, na melhoria do desconforto e da dor. Em curvas pequenas, desde que a vigilância e, eventualmente, as outras formas de tratamento sejam mantidas, não há prejuízo na realização destas práticas.
Se a curva da coluna vertebral estiver a progredir, ou se for superior a 25 graus, uma ortótese (colete) pode ser recomendada.
Os coletes são a primeira linha de defesa contra o agravamento das curvas da coluna vertebral de uma criança com escoliose idiopática. Quando feito corretamente, e usado adequadamente, um colete pode impedir a progressão da deformidade. Estudos recentes e poderosos, incluindo o estudo BrAIST, provaram que os coletes são muito bem-sucedidos em travar a progressão da escoliose, evitando a evolução para cirurgia em cerca de 75% dos casos em que tal seria esperado, se a deformidade evoluísse naturalmente.
Os coletes são geralmente usados em crianças com crescimento significativo remanescente e com curvas entre 25 e 40 graus. Habitualmente, durante o tratamento com um colete, é feita uma vigilância e avaliação a cada seis meses.
Em raras circunstâncias, os coletes podem ser usados em curvas maiores ou menores. Quando a escoliose excede os 45 a 50 graus, a correção cirúrgica é necessária.
Intervenções cirúrgicas para a escoliose
Existem várias opções cirúrgicas para corrigir a escoliose idiopática. Na avaliação em consulta, com base na idade, no grau de progressão, no tipo e magnitude da curva, e na sua flexibilidade, será determinada qual cirurgia mais adequada.
A fusão vertebral, habitualmente feita apenas por uma abordagem posterior da coluna, é o tratamento cirúrgico de eleição na maioria das escolioses idiopáticas. Se o paciente estiver nos últimos 2 a 3 anos de crescimento ou tiver já parado de crescer, a cirurgia de fusão pode ser recomendada para corrigir a deformidade o máximo possível. Esta cirurgia estabiliza permanentemente a coluna vertebral. Neste procedimento, as vértebras são realinhados e fundidas (coladas), utilizando implantes metálicos (parafusos e barras, habitualmente). Estes implantes não necessitam de ser retirados, podendo ficar colocados durante toda a vida. Este é um procedimento bastante seguro e eficaz, tendo, no entanto, a desvantagem de transformar a zona operada, num segmento sem mobilidade.
Para crianças mais pequenas, ainda com muitos anos de crescimento, a fusão vertebral não é recomendada uma vez que pára o crescimento do segmento operado. Isso poderia ter repercussões importantes no tamanho da caixa torácica, com alteração da capacidade respiratória no final do crescimento. Com a utilização de hastes expansíveis (“growing rods” ou “magnetic rods”), a curvatura da coluna é alongada por uma ou duas hastes sob a pele, para evitar danificar o crescimento da coluna vertebral. As hastes são fixadas nas vértebras acima e abaixo da curva e ajudam a guiar o crescimento da coluna vertebral.
Com a utilização de “growing rods”, a medida que o paciente cresce, será necessário voltar ao bloco operatório a cada seis meses para, em cirurgia de ambulatório, alongar as hastes de crescimento. Quando é feita a utilização de hastes magnéticas (“magnetic rods”), o alongamento é feito trimestralmente, no consultório médico, sem necessidade de anestesia ou de cirurgia. O controle do alongamento é feito com ecografia e não causa qualquer desconforto ao paciente. Em ambas as situações, esta abordagem minimiza a deformidade e maximiza o crescimento da coluna, permitindo o desenvolvimento pulmonar contínuo durante o crescimento. Habitualmente, perto do final do crescimento, é feita uma cirurgia de fusão vertebral para corrigir, de forma definitiva, a deformidade.
Os maiores problemas associados à cirurgia de fusão vertebral são a sobrecarga que vai ocorrer, a longo prazo, nas zonas não operadas, e a perda de mobilidade da zona operada, o que pode comprometer alguma funcionalidade. Para tentar evitar estas complicações, têm sido desenvolvidos, recentemente, sistemas de correção da deformidade, sem fusão da coluna vertebral. Esses sistemas são o “vertebral body tethering (VBT)” e o “posterior dinamic distracion device (PDDD)”, comercialmente designado por ApiFix.
O “vertebral body tethering (VBT)” é um tratamento cirúrgico inovador para crianças com escoliose idiopática. No procedimento de VBT, são colocados parafusos no lado convexo da curva por via anterior (através do tórax ou do espaço retroperitonial). Um dispositivo semelhante a uma corda (“tether”), é então preso aos parafusos e a corda é esticada, corrigindo parcialmente a deformidade e orientando o crescimento remanescente da coluna da criança. À medida que a criança cresce, a coluna vai corrigindo progressivamente a curvatura residual. As indicações para este procedimento ainda não estão absolutamente definidas, estando reservado para curvas de magnitude entre 35 e 65 graus, e em crianças muito imaturas. As complicações e os riscos deste tipo de procedimento ainda são pouco conhecidos.
ApiFix é o nome comercial de um sistema de distração dinâmica posterior da coluna vertebral, que é usado para permitir uma correção progressiva da curvatura da coluna. Este sistema, é implantado cirurgicamente no lado côncavo da curva, por via posterior, e permite fazer uma correção progressiva da deformidade, acompanhando o crescimento e mantendo a quase totalidade da mobilidade da coluna vertebral. A cirurgia demora cerca de 90 minutos. O doente pode iniciar levantes no próprio dia ou no dia seguinte à cirurgia, e tem alta para casa às 48 horas, após o tratamento.
Este sistema está indicado para utilização em curvas únicas (torácica ou lombar), com uma magnitude de 35 a 60 graus, flexíveis, a partir dos 10 anos.
O O5 Ortopedistas integra o Dr. Nuno Alegrete, pioneiro em Portugal na realização desta técnica, e um dos cirurgiões de referência internacional para a sua aplicação.
A cirurgia da escoliose é uma cirurgia segura?
A cirurgia pode melhorar drasticamente os resultados a longo prazo para o paciente com escoliose idiopática, mas também pode ser uma experiência angustiante, muito por causa da preocupação generalizadamente associada à cirurgia da coluna vertebral.
Sabendo que todas as intervenções cirúrgicas podem ter complicações, é necessário todo o cuidado para as prevenir. Os protocolos de segurança que utilizamos na cirurgia de escoliose incluem um rigoroso protocolo de antibióticos perioperatórios (para prevenir uma possível infeção), o uso de equipamentos de navegação e imagem de ponta, durante a cirurgia, como O-arm® Surgical Imaging, monitorização contínua durante a cirurgia da função da medula espinal, através da utilização dos potenciais evocados sensitivos e motores.
Quase todas as crianças com escoliose idiopática corrigida cirurgicamente, passam bem e levam uma vida ativa e saudável. Com algumas exceções (sobretudo quando é necessário fazer fusão de parte da coluna lombar), as crianças podem retomar a atividade desportiva. A cirurgia de escoliose não afeta a capacidade de escolher uma profissão nem afeta a gravidez na idade adulta.
Prof. Nuno Alegrete
O Prof. Nuno Alegrete consulta à 3ª, 4ª e 6ª de tarde, e à 5ª de manhã.
Agende a sua consulta
Entraremos em contacto consigo no prazo de 24 horas para confirmar a sua marcação